PERIGUETE-VAGABA
Era só uma plantinha frágil
Nascida no fundo do quintal
E por um destes acasos da vida
Foi que diligente, o jardineiro
Mudou para a frente da casa.
Cuidou dela, deu-lhe água
Combateu ervas daninhas
Matou insetos predadores...
Com o tempo, por gratidão
Fazendo-se árvore frondosa
Oferecia sombra e doces frutos.
Não faltaram, porém, madeireiros
Gananciosos, para seduzi-la
Com promessas vãs, que seria
Mesa de importante escritório
Ou até cama de algum palácio...
Atento, contudo, o jardineiro
Cercou sua planta de muros
Mas sem colocar-lhe telhado...
Se entrou vento, sol e chuva
Também aves de rapina
Disfarçando em melodias
Seu grasnar de maus presságios.
Por isto, ou apesar disto
Do jardineiro, a árvore
Fez-se ingrata e esquiva.
Não lhe concedendo mais que
A ponta de um velho galho
Para que amarrando uma corda
Enfim, ele nela se pendurasse.
Nada como um dia após outro
Por haver crescido demais
Oferecendo risco à vizinhança
O corte da árvore se cumpriu
Enquanto do quintal, outra planta
Com zelo o jardineiro trazia.