In

Nada do que posso me surpreende

O óbvio parece me conhecer melhor do que eu

A razão se impõe diante de minhas atitudes

A leveza insustentável me pesa

Fui eu quem pintou aquele dia para você

Eu enfeitei a tarde cinzenta com chuva fina

Tirei a rotina de tua tarde monótona

Eternizei o momento para que parasse assim

Agora sobrou o quadro que pintei

Concreto, real e passado, passado

Será que tudo em mim é passado?

Passo a vida construindo meu passado concreto

O presente se enche de ternura ao lembrar, lembrar

Consegui ir ao fundo do oceano num só fôlego

Agora estou aqui diante de um frio LCD

As letras me vem como gotas de chuva

Sinto-me abraçada ouvindo essa canção

Ela fala de amores que nem chegaram a existir

E da tristeza das feridas desses não-encontros

Perdida entre a realidade e a fantasia me escondo

Nada quero senão minhas digitais em mim

Não emolduro quadro que nem pintei

Tudo o que vejo realizei, fiz, eternizei com minha retina

Enfreitei dragões e bruxas enquanto dormia

Acordei cansada, exausta de não ter vivido até o fim

O que faço com meus reflexos? Com meus espelhos?

Era tudo o que queria sonhar por hoje

Uma enormidade de água me cercando

Um tanto assim de sal me saboreando

O verde e o azul se confundindo em mim

O massagear das ondas em meu corpo nú

Vem vento invadir minhas entranhas e pensamentos

Quanto mais areia no caminho mas intenso o céu

Tantas praias ainda desertas e sem dono

Chego e logo quero partir...

Não quero tua mão para chegar

Quero sua essência para continuar...

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 10/03/2011
Código do texto: T2839694