És filha do mar

sim, sou filha do mar

não tenho raízes na terra

sou a que as ondas carregam consigo

e jogam contra os rochedos

para após retomarem como sua

esbatida e nua

sou dos recomeços

das ondulações

das espumas e aragens

não sou das margens

nem dos limites

se em ilhas me detenho

me redesenho itinerante

evito o naufrágio

por um breve instante

e volto ao mar

- delirante -

atiro-me à imensidão

o mar está perto do céu

vivo nesse carrossel

até o dia

de ser abandonada

em alguma praia

como arraia que perdeu

na pescaria

largada na areia

corroída pela maresia

- concha vazia