Viagem ao interior dum corpo
Alguém grita a meio da viagem:
- a vida venceu a morte!
Abandonam-se as facas
acendem-se as lâmpadas e a leveza da luz
embriaga
as miragens de flutuantes almas
desabitadas do corpo.
Incendeia-se o fundo brilhante do céu
em multidões de estrelas…
A luz nervosa do néon, aqui, perde-se
no reflexo plúmbeo dos espelhos
e na fímbria das planícies verdejantes.
Inundam o branco desta cidade longínqua
e perdida
gestos cansados.
A vaguear no espaço sem nome
em mágicas espirais o corpo flutua
na ausência da matéria.
Amanhã nascerá da morte outro ser…
em marcha para o infinito
intemporal
o seu olhar meditativo pousará nas frágeis
arestas do tempo.
Luminosa alba arrebatará da terra
as almas
para a travessia do caos em infinito dilúvio
em busca da ordem
após o nada e o princípio.
O olhar, no crepúsculo,
fascinado por celestiais viagens na mítica noite
desbravará as trevas
romperá a escuridão
por entre as fissuras do tempo perdido
sem abandonos nem desolações.
Entre túmulos vazios
evaporar-se-ão as almas em busca de fresca fonte…
No lume invisível da viagem sem regresso
divagarão na profundidade do tempo
que ressuscitará de novo.