POEMA-ÁGUIA
Não procure rima
Não busque métrica
Nem prosódia exata
Nem um quê de nexo
Nestas linhas trêmulas
Que se transfiguram
Como réquiens incólumes
De uma estação da alma
Pois aqui temos
Um poema embriagado
Hipnotizado, em versos,
Por uma sensibilidade
Sem sombra e sui generis,
Indelevelmente imersa
Na intrepidez das letras
Trata-se, portanto,
De um poema-águia
Cujas asas trôpegas
São apenas sonhos
Sobrevoando, pasmos,
A imensidão do céu
Em perspectiva cósmica
E sem estrelas guias
Ou, talvez, um poema-peixe
Nadando nas profundezas
De um oceano emocional
No qual o tempo, em si,
Seja tão-somente onda
Eletromagnética de sentimento
Por tudo isso,
Não procure lógica
Neste poema insone,
Neste poema-vácuo
Que se esvaiu
E naufragou, assim,
Sem temer o tempo
Sem correr do vento
Sem olhar pra mim.