ÁTIMOS
Juliana Valis



Feche bem os olhos

E veja no amor

A poética chama

Da tempestade. 




Não, não apenas veja,

Sinta, declame, grite

Além do êxtase em cor,

Nesta chama do amor que existe

Transcendendo até que não somos




Sim, o que não fomos,

Ao repartir estrelas entre os ventos

E diluir na dor o átimo dos tempos

Nestes momentos servidos em consolo




Talvez não queira ver mais nada

Talvez queira, apenas, dissolver a lua 

Em mil cacos da dor que brada 

Entre o delírio e a realidade crua,

Cruamente só nesta insípida jornada




E quando não houver mais tempo

No átimo repartido entre os amores,

Perderão as cores este sentimento

Do olor mais puro entre nada e tudo ?



Sim, meu grito é desconexo e mudo

Perplexo, trôpego, na luz, sem fim

E este louco átimo de amor-escudo

Talvez seja a melhor definição do que sobrou de mim.



Feche bem os olhos

E veja no amor

A poética chama

Da tempestade.



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