O ANTEVIDA


Um corpo nu, onde as verdades brotam,
Um olhar intensamente distante,
Ao fitar o imenso vazio;
Um silenciar doído que machuca
Ou se murmura algumas vezes,
Não diz quase nada.

Verdades que brotam de um corpo desnudo
E quase invertebrado,
Que só se arrasta sem destino certo,
Um olhar que penetra nas entranhas invisíveis
De um silencio que às vezes grita
E seu eco estridente, faz desmoronar
Muralhas absolutamente intransponíveis.

Saliva que molha o chão deixando-o escorregadio
E mesmo assim, se movimenta,
Deixando rastro de dor sem consciência,
Por onde sua nudez teima em seguir.

Não quer vestir-se, sente-se prisioneiro
De amarras invisíveis que lhes podam os gestos,
E mesmo assim prossegue, sem saber pra onde,
Nem o que procura... Talvez a vida...
Essa que sequer deu ar da graça,
E sem perceber, vai rastejando, rastejando... 
Até cansar-se ou até que o sono o faça adormecer,
E para sempre.
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Alguém que jamais conseguiu andar, falar, nem mesmo expressar-se por gestos;
Alguém, que só Deus sabe por que viera ao mundo
dos humanos.