ASSOMBRAMENTO (sempre que olho para o céu)
“E eu vos direi: "Amai para entendê-las:/ Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas". (Olavo Bilac in Via Láctea).
Ah, vil cegueira! Se eu pudesse suster na retina
Toda a beleza cristalina que emana do belo luar,
De alegria morreria, embebedado em estricnina,
Na aguardente mais fina ou afogado no azul do mar.
Ah, se pudesse voar às alturas e trazer preso num abraço
Uma estrela fulgente ou mesmo uma brasa cadente
Que o céu risca de lado a lado, brilha e corisca no espaço,
De alegria morreria nas lavas de um abraço ardente.
Ah, se me desse o Senhor Deus poderes irrestritos
Que desvendassem os encantos que a natureza produz
Deixar-me-ia vagar e sondar a vastidão do infinito
Trazer um quasar que cintila ou do sol uma gota de luz
Ah, este assombramento diante do belo que espanta
A encantada alma do pobre bardo, do sofrível cantador;
Ah este mistério que assusta, que atrai e que encanta
Que traz um nó à garganta do extasiado admirador...
J.Mercês
3/7/2012