AMARGAS ILUSÕES

 
Não chorem pelo que não somos na terra desconhecida,

nem pelo que almejamos ser em alma posta na carne,

em egos translúcidos que se deleitam com imagens magníficas,

contidas nas seduções e nos delírios do grande cenário abismal.

Foi assim me perdi ao ousar caminhar sem pisar o chão ressequido,

pavimentado com espinhos invisíveis, caídos de frágeis sonhos suspensos no nada,

incapazes de alimentar seres estranhos com espíritos mumificados que nele habitam,

sob a falsa luz que esconde infalivelmente a noite interior, a consumir canibalisticamente das próprias entranhas,

quando se movem durante o dia, entre os aromas das flores e os suaves toques do vento,

sem que se percebam que as flores são gélidas e que o vento é traiçoeiro.

Não me lembro quando percebi que o mundo se esconde atrás dos rostos de tantos protagonistas,

atuando incessantemente na imensidade à qual se centram e fazendo-me quedar diante da vulnerabilidade do olhar,

posto nos corpos nus e nas mentes contrastantes das multidões que se desvencilham dos espinhos mortificados pela planície,

em busca do ponto de equilíbrio inexistente no mar de sentimentos invasores.

Ânsias e vômitos desvendados, máscaras e faces expostas sem que se possam distinguir entre uma e outra,

deuses criados para salvação do que já predestinadamente está salvo,

e demônios criados para a condenação do que já predestinadamente está condenado.

Não sei onde me encontro com o andar suspenso, talvez entre a loucura e a razão.

Se tento fugir de retalhos de tempos e vidas irrecuperáveis ou se fico em dor e lamento;

se tento me soerguer mais para a queda certa ou se me abandono prostrado à angústia;

se busco a liberdade nascituramente condenada ou se me deixo escravo da tragédia.

Sei apenas que ousei romper num momento perdido, incapaz e sem sentidos, extremos de meu ser contido,

nos mesmos caminhos irreconhecíveis agora atacados por minha loucura assentada,

onde também sou prisioneiro nos limites em que se encontra o olhar de minha face.



Péricles Alves de Oliveia

 
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 28/11/2012
Reeditado em 28/11/2012
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