Um paladino da literatura

Tua paixão pelas letras é um perigo para a vida

quando é a ti que diz respeito.

Mas é a tua salvação quando se lança sobre ela.

Este paladino que se alberga em ti será

sempre perseguido pela peste emocional.

Descansa agora, goza os frutos do teu êxito

e do teu prestígio...

Em poucos anos serás esquecido

Recolha-te agora ao merecido repouso,

ao limbo, execrável, que te espera...

Cultiva, majestosamente, a grandeza

na tua profunda solidão espiritual

e cessará teu sofrimento milenar.

Almejas a glória?

Que abissal estupidez!

Permanecerás no lameiro.

Acharão mesquinhas tuas ideias e

teus supostos valores.

Não te iludas esperando que lhe rendam

a devida (e justa) homenagem.

És um gênio limitado.

Um Zé Ninguém. Mas não se subestime.

E não tomes isso como menosprezo.

Tens ciência de que a vida se esgotará

quando auscultar a voz que murmura no teu íntimo.

Quer seja glorificado como gênio,

ou encerrado numa instituição psiquiatra,

muitos hão de seguir as tuas pegadas.

Granjeará o séquito dos povos,

por tuas máximas e revelações.

Por suas paixões desnudadas em versos.

Eis a tua recompensa: sofrerás a sorte imposta

a outros teus da mesma estirpe.

E então, ao último suspiro profetizarás

com o orgulho de um velho sábio:

“Plantei a semente de palavras sagradas neste mundo,

que germinará mesmo em solo árido.

E quando muito depois de morta a palmeira abalar o rochedo,

E quando o esplendor de todos os reis não for mais que

podridão das folhas secas,

Através dos dilúvios mil arcas guardarão a minha palavra.

Ela prevalecerá.”

Edir Araujo
Enviado por Edir Araujo em 23/01/2013
Reeditado em 29/05/2014
Código do texto: T4099739
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