Onze Meias-Noites - Segunda Meia-Noite

Segunda Meia-Noite

04 de setembro de 2005

00:36 h

Cintilantes os copos distantes

Quebrando-se no avante

Dos pilares antiquados

Dos velhos mundos

De todos os desamores.

Meia-Noite,

Segunda Meia-Noite,

Nasço em uma Meia-Noite!

Fabuloso cantar de Byron

Calado!

O que calou?

Por que calou?

Em que calou?

Onde calou?

Um momento de repouso

No cantar

Para todos os poetas

Do Vale Dos Poetas Perdidos

E dos vales

Dos mundos perdidos

Da perdida Terra

E da perdida Criação

Poderem chorar

Por lembranças

De um ontem esquecido

De esquecer-se

De sempre

Querer voltar...

Meu tempo

Um pouco parou

E eu choro

No inferno próprio

Do meu terremoto

Interior estrondo.

Meu tempo

É ruído

Que a ruína

Das cinzas

Das pegadas cinzentas

Dos meus

Pés arruinados

Deixaram como vírgulas

De um texto inexato

No caminho errado

Do certeiro passo

Mais errado meu.

Meu tempo

Demorou

E eu demoro

A demorar-me

Buscando um tempo

Que seja feliz

Ou buscando feliz

Um tempo

No qual eu

Tenha tempo

De ser feliz

Sem buscar

O feliz.

Meu tempo

Buscando...

Meu tempo

Busca...

Meu tempo

Feliz...

Meu tempo

Feliz...

Quando passei

No cair de uma rosa

Da roseira

Dos meus pesadelos

Vi Caronte remando

No Rio Do Desespero

No qual

Charlotte D’anfredo

Afogou-se por dor.

Charlotte,

Triste Charlotte,

Você veio!

Charlotte,

Estranha Charlotte,

Você trouxe Caronte!

Caronte,

Quem rema agora

Pelo Rio que não passa

No inferno que é

O mundo comum

Dos iludidos?

Caronte,

Quem rema agora?

Caronte?

Charlotte?

Charlotte,

Conheço-te dolorida

E vejo-te dolorida

Com esta tua chaga

De infinita mágoa

N’alma...

Caronte,

Conheço-te enfermo

De tanto navegar

No rio do teu

Inferno desespero

De remar

De remar

De remar

Por funerais

Por funerais

Por funerais

De si mesmo...

Meia-Noite,

Meu funeral

É eterno!

Meia-Noite,

Minha infinita mágoa

É um funeral!

Meia-Noite,

Conheço-Te como

Meu funeral n’alma!

Meia-Noite,

Vejo-Te como

Meu navegar no rio

Do meu

Inferno desespero!

Meia-Noite,

Acolhei!

Meia-Noite,

Acolhei

Charlotte!

Meia-Noite,

Acolhei

Caronte!

Meia-Noite,

Acolhei-me!

Charlotte,

Caronte,

Irmã,

Irmão,

Irmãos na Meia-Noite,

Choremos remando

No mesmo doloroso

Barco inferno

Do dia que buscamos

Sabendo da Noite

Contida na Meia-Noite

Que é nossa Mãe

A amamentar-nos!

Charlotte,

Caronte,

Filha dolorida

Da Meia-Noite,

Filho remador

Da Meia-Noite,

Unamo-nos

Em total lacrimoso

Lamento extremo

Que acorde todo

Desgraçado vivente

Nas trevas ardentes

Da Meia-Noite!

Charlotte,

Acordemos!

Caronte,

Acordemos!

Charlotte,

Caronte,

Acordemos

Byron,

Shelley,

Álvares,

Florbela,

Cruz e Souza,

Karl,

Marcus,

Brain,

Augusto,

Augustus,

Baudelaire,

Rimbaud,

Sirene,

Safo,

Sheila,

Brigitte,

Branca,

Gilda,

Acordemos,

Acordemos,

Acordemos

Os poetas

Que remam

E as poetisas

Que remam

Nos rios

De suas lágrimas!

Charlotte,

Caronte,

Acordemos

Flabelus,

Flavius,

Vitorius,

Sergius,

Cesarius,

Gustus,

Otavius,

Gerasius,

Sorasius,

Onacius,

Rafelius,

Urasius,

Belasius,

Acordemos,

Acordemos,

Acordemos

Os bardos romanos

Que contaram

As histórias

Dos homens

Que eram

Eles mesmos

A remarem

Nos rios

De seus suicídios!

Charlotte,

Caronte,

Acordemos

Lukaos,

Prysydyus,

Akoenaton,

Pahlar,

Radejya,

Idoman,

Alysha,

Saberina,

Samalla,

Laurina,

Labina,

Lautina,

Uparina,

Sevenia,

Galuska,

Kaunahara,

Setapobata,

Ahanobeta,

Idelgamesh,

Bareya,

Ylea,

Makoneth,

Isoathep,

Betharonep,

Bauthortep,

Cassiophea,

Sylene,

Sara,

Ester,

Esaura,

Isauna,

Acordemos,

Acordemos,

Acordemos

Os missionários

De Rios Da Dor

Que remaram

Com bêbado torpor

Nos rios

Do fim do ardor!

Charlotte,

Caronte!

Charlotte!

Caronte!

Charlotte?

Caronte?

Charlotte...

Caronte...

Levados.

Levados por Ti.

Levados por Ti

Através do Vosso

Guardião Osbolos,

Meia-Noite.

Charlotte

Levada por Ti

Através do Vosso

Guardião Osbolos

Meia-Noite

De volta

Ao afogamento

No Rio Do Desespero.

Caronte

Levado por Ti

Através do Vosso

Guardião Osbolos

Meia-Noite

De volta

Ao remar

No Rio Do Desespero.

Charlotte

Afogada.

Caronte

Remando.

Charlotte

Suicídio.

Caronte

Suplício.

Charlotte...

Caronte...

Meia-Noite,

Tu os levastes

Através dos braços

De Osbolos.

Meia-Noite,

Tu os levastes

Através dos braços

De Osbolos,

Mas acordaram.

Meia-Noite,

Teus outros filhos

Acordaram.

Meia-Noite,

Abraçai-os.

Meia-Noite,

Abraçai-nos.

Meia-Noite,

Abraçai-me.

Estamos todos

Aqui.

Eles estão

Todos

Aqui

Em minha

Casa

Toda

Aqui

De

Remo

Partindo-se

No

Rio

Do

Meu

Aqui.

Cantando.

Estamos

Todos

Cantando.

Todos

Cantando

Por

Ti

Meia-Noite.

Remamos.

Remamos!

Remamos...

Remamos

Em

Ti

Meia-Noite.

Teus

Rios

Não

São

Maus

Meia-Noite.

Teus

Rios

São

Nossos

Meia-Noite.

Cantando

Meia-Noite.

Música...

Música?

Música!

Música.

Música

Cantando.

Música

Remando.

Música

Charlotte.

Música

Caronte.

Música

Poetas.

Música

Bardos.

Música

Missionários.

Música

Filósofos

Poetas

Bardos

Missionários.

Música

Missionários

Bardos

Poetas

Filósofos

De

Rios

Que

Remam

No

Fim

Dos

Risos.

Música

Chorando

Meia-Noite.

Música

Que

Não

Ri

Meia-Noite.

Música

Que

Não

Sorri

Meia-Noite.

Música

Infinitas

Badaladas

Meia-Noite.

Badaladas?

Badaladas!

Badaladas.

Badaladas...

Madrugada

Cantante.

Madrugada

Meia-Noite.

Drogada

Rema

A

Madrugada

Meia-Noite.

Música

Meia-Noite

Sepulta

O

Remo

Que

Se

Quebra

Em

Todo

Rio.

Música

Meia-Noite

É

O

Único

Início

Conhecido

Do

Meu

Início

Como

Único

Em

Carne

A

Não

Ser

O

Único

Em

Espírito

Remando.

Cantando

Meia-Noite

Os

Remos

No

Canto

Dos

Rios

Dos

Teus

Rios.

Cantando

Os

Teus

Rios

Meia-Noite.

Cantando

Nas

Águas

Dos

Teus

Rios

Meia-Noite.

Música

Meia-Noite

É

O

Objetivo

Da

Criação

Remando.

01:45h