Pedras Mudas

Das trilhas do meu caminho, restam as pedras em que pisei.

Por onde pisei só as pedras o sabem.

Como sabem como foi o meu pisar.

E se o sabem, foi por lhas permitir.

Para no futuro – hoje – serem as testemunhas do meu passado.

Testemunhas mudas.

Mudas pedras. Mudas, pedras, e vão para longe...

E percam o contato com as demais, do meu caminho.

E, se espalhem, sem espalhar o que me sabem.

E sejam muitas e únicas, afastadas, mudas.

Para que não mudem o que me sabem!

E, como mudas, se aquietem e não mudem mais...

Não mudem o caminho da nova trilha.

Da trilha que ainda hei de pisar...

E como o mundo muda, muda o meu pisar...

Mudam-se os meus caminhos como mudam as minhas trilhas.

E pedras outras se submetem ao meu pisar.

Do mesmo modo, mudas. Do mesmo modo mudas!

Até que eu me vá...

E possa, do mesmo modo que vós, pedras mudas...

Submeter-me de forma muda ao peso de vós outras.

E que possam cobrir a minha carcaça em meu túmulo.

E eu serei sua testemunha muda, daquilo que ocultam.

O meu próprio eu a quem haverão de pisar com força...

Até que eu me vá pelo caminho último em que não há pedras.

Onde minha consciência será o meu guia.

Minha testemunha de defesa e acusação.

Meu juiz e meu advogado.

Eu mesmo e nada mais...

O nada meu!

O nada meu que me acusa!

O nada meu que me alivia!

O tudo que me fere e o tudo que me cura!

E o nada e o tudo serão pesados.

E as medidas deverão ser comedidas!

E, que o tudo de mim que torne pênsil a balança, seja o tudo bom, o tudo bem!

Para que eu torne a um novo eu...

A, com os meus pés, poder polir novas pedras...

De um novo caminho, de uma nova era e de uma nova vida...

E que tais pedras sejam-me novas testemunhas mudas.

Para que o meu novo eu, com meu novo nada e meu novo tudo sejam julgados!

E, que o tudo de mim que torne pênsil a balança, seja o tudo bom, o tudo bem!

Charles Lucevan Rodrigues
Enviado por Charles Lucevan Rodrigues em 17/06/2014
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