A NOITE ANTERIOR

Dialeticamente, o pano

Que passo sobre a mobília, sem dano

Dialoga com o sinestésico, do aço

Que está nas pernas da cadeira, prensando

Sobre a estética do assento, prensado

Do ser que relaxa o corpo, ofegante

No meio de um dia, pesado

Na meia parte de um instante, passado

Atrás de resquícios da memória, das horas

De fugazes realidades, pescadas

Eu quero falar do pano

De coisas que não refletem no espelho

Que desmancha sobre o móvel niquelado

Que se fundem na abstração do dano

Na destreza de pensamentos de dejetos rasgados

Simpatizantes desses olhos vermelhos, molhados

Ainda não falei do plano

Que inspira a poesia

Do sinestésico, da anestesia

Ainda que seja dano

Ainda que ande a fantasia

Não quero falar de palavras

Nem de letras com muitos ganchos

Nem de cores sem formas enlameadas

Tortas, orquestradas

Antíteses de quadrados sem cantos

Encantos combinados em quadrados

Dialeticamente, o pano

A mobília e o plano

E até o aço da cadeira

Conspiram formas aos prantos

Comungam versos cansados

fadados, canseiras

Dialeticamente, a palavra é um verso sem tampa