O HOMEM REFÉM DE SI
Emissores de lumes verbais
andam regozijando por aí confusas
verdades sobre o ser, com
suas neblinas opacas;
mas eis que um anjo caído
veio me visitar em sonho e me falou
sobre o misterioso engodo
dos desalinhados:
somos aprisionados
em nossos labirintos de bestiários,
de onde tentamos abrir caminhos
com salivas engalanadas,
a apocrifia pela palavra é o que
guia nossas argúcias luzidias, em esplêndidos
banquetes servidos com cores
e manjares osgarmáticos;
mas, nas transitórias flâmulas
da matéria, somos reféns de uma única verdade:
transbordamos fantasias e promiscuidades
com nossas mentes dementes
e corpos incandescentes.
E de nossa maior infâmia,
desenhada a fausto e falso lume:
a de que Deus tenha feito o homem
à sua imagem e semelhança;
há o rastro claro
de nossas inalienáveis abnormidades,
pois Deus não pode habitar – sob risco perder
sua divindade para o sapiens –
em qualquer coisa
que criemos das profundas e sencientes
valas que habitamos.
Péricles Alves de Oliveira