NOITES DE TOSSE

Por esses dias,
peguei uma gripe
e uma tosse de sapecar
a paciência.

Noite passada,
tentei pensar um verso
que sempre morria na espuma de minha
praguejada tossida:

- Sinusite filha da puta!

Cansado de pelejar
por algum pensamento sobre um bestiário
qualquer que pudesse me render
alguma rima,

tentei ouvir Elvis, Bono
ou Springsteen; e lá se veio o maldito surto,
rompendo-me pela garganta, como
o latido de um cão moribundo.

Não vou esconder que
a solidão é algo que me agrada; digo até
me inspira versos e vesanias
pela madrugada;

mas que solidão que nada:
por esses dias, sou eu, o vírus e a maldita
tosse engessada.

Pensei, então,
– já que não conseguia compor –
em comer minha mulher, que já estava dormindo,
isso se a tosse deixasse:

nos primeiros beijos,
já lhe cuspi o vírus pela boca, peitos
e vulva afora;

e quando com a haste
mais me movimentava em seu oco molhado
mais a danada tosse
me atacava.

De manhã, não deu outra
Sorte:

- Bom dia, Senhora.

- Cof, cof, cof.

Sorri silente de seu
semblante gripado: hoje à noite,
os pirilampos e os grilos, e os versos,
e Springsteen, e Bono,
e Elvis

vão fugir novamente
de cena, porque vou abrir um bom vinho tinto
e varar com ela a madrugada em uma
algazarra de tosses.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 21/08/2014
Código do texto: T4931793
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