NOITES DE TOSSE
Por esses dias,
peguei uma gripe
e uma tosse de sapecar
a paciência.
Noite passada,
tentei pensar um verso
que sempre morria na espuma de minha
praguejada tossida:
- Sinusite filha da puta!
Cansado de pelejar
por algum pensamento sobre um bestiário
qualquer que pudesse me render
alguma rima,
tentei ouvir Elvis, Bono
ou Springsteen; e lá se veio o maldito surto,
rompendo-me pela garganta, como
o latido de um cão moribundo.
Não vou esconder que
a solidão é algo que me agrada; digo até
me inspira versos e vesanias
pela madrugada;
mas que solidão que nada:
por esses dias, sou eu, o vírus e a maldita
tosse engessada.
Pensei, então,
– já que não conseguia compor –
em comer minha mulher, que já estava dormindo,
isso se a tosse deixasse:
nos primeiros beijos,
já lhe cuspi o vírus pela boca, peitos
e vulva afora;
e quando com a haste
mais me movimentava em seu oco molhado
mais a danada tosse
me atacava.
De manhã, não deu outra
Sorte:
- Bom dia, Senhora.
- Cof, cof, cof.
Sorri silente de seu
semblante gripado: hoje à noite,
os pirilampos e os grilos, e os versos,
e Springsteen, e Bono,
e Elvis
vão fugir novamente
de cena, porque vou abrir um bom vinho tinto
e varar com ela a madrugada em uma
algazarra de tosses.
Péricles Alves de Oliveira