Do barro vermelho e frio
Nas mãos de barro vermelho e frio
Esculpiam o tempo
Burilavam a dor
Moldavam bocas
Que nunca calavam
Ávidas bocas
De barro vermelho e frio
Perdiam-se na noite os amantes...
Em volta, o silêncio...
Minas de água, suor e areia
Febre burilando a dor
No barro vermelho e frio
Fundiam-se num só espaço os amantes...
Mãos trêmulas
Cinzel
Amavam-se assim
No barro vermelho e frio
Nas noites nas madrugadas
Nem vento nem mar os movia
Nem a água salgada os molhava
E de tanto se amarem assim
A terra nem mais girava
Eram corpos de areia e tempo
Esculpidos em silêncio e horas.
Areia de falésias e grês...
Nem correnteza
Nem temporal
Minavam o amor distraído
No barreiro de lamaçal
Pois
Eram corpos de barro vermelho.