NAQUELE SONHO

Naquele sonho

As estrelas caiam sobre a terra

Como pingos de chuva

E enchia de prata as ruas.

Os amantes brincaram de ciranda

Até à madrugada...

Enquanto os moribundos prateavam seus caixões

Acreditando que quando as estrelas evaporassem

Eles seriam levados juntos para o céu.

Pela manhã o céu se abriu

E o sol choveu feito ouro

E as casas ficaram douradas

E as crianças adoraram

E cantavam em coro:

“Senhora dona Cândida

Coberta de ouro e prata

Descubra seu rosto

Quero ver a sua cara...”

Até que um estrondoso trovão

Fez desabar o céu

E um imenso manto azul

Suspenso em brancos balões de nuvens

Cobriu o mundo.

Fez-se um silêncio ensurdecedor

E o imenso manto azul

Pouco a pouco recolheu

Toda a prata e todo o ouro

Subindo de volta ao céu.

E aos poucos o mundo retomou sua rotina

Cheio de buzinas, fuligens de automóveis,

Medos, mentiras, tecnologias...

E nunca mais se ouviu as crianças cantarem:

“Senhora dona Cândida

Coberta de ouro e prata

Descubra seu rosto

Quero ver a sua cara...”

Restaram os furtivos encontros dos amantes

E os moribundos a virarem estrelas...

Chico Alves dMaria
Enviado por Chico Alves dMaria em 22/09/2014
Reeditado em 23/09/2014
Código do texto: T4972256
Classificação de conteúdo: seguro