TRAGICOMÉDIAS
Há asas brancas
e corpos de sereias ao palcos,
há fantasias de marinheiros e de lampreias
por detrás dos mosaicos;
há nuvens beijando
as distâncias impossíveis dos oceanos,
há palavras-brasa enfeitando
as cloacas das sombras;
há esquecidos terreiros
escalados nas puerícias perdidas das infâncias,
há máscaras clorofórmicas cozidas
nos labirintos das temporais
insânias;
há anjos fugindo
a flutuarem por desconhecidos escuros,
com medo de seus reflexos
às águas e aos espelhos,
há ratos e fantasmas
gritando para se libertarem da petrologia
de seus próprios e entenebrecidos
becos:
o acalento e o acoite,
a primeira nota e o quarto andar,
o fogo-fátuo e as cinzas
de suas cores.
Longinquamente
– além-vistas, além-sonhos e além-quaisquer-senciências –,
gloriosos deuses amam, silente e avassaladoramente,
a cársticos demônios.
Péricles Alves de Oliveira