Em Minha Hora de Morrer
A última canção que chegaria aos meus ouvidos
Diria-me tanto em melodias e versos tão compridos
Feliz é o homem que vê o caminho assim à sua frente
Podendo partir sem nada atormentar a sua mente
Tendo como vestes apenas cabelos e como mapa o vento
No caminho único em que ele é o senhor do próprio alento
Minha última palavra eu não sei quem ouviria
Meu último conforto eu não imagino da onde viria
Eu me lembro das palavras que já me foram ditas
Eu esqueci das que disse como palavras malditas
Eu conto os passos que me trouxeram até aqui
Eu conto em quantos deles eu realmente vivi
Em quantos desses caminhos eu ao menos sorri
Quantas vitórias ao longo disso eu consegui
A última pessoa que eu contaria todos os meus medos
Em quem eu confiaria para guardar meus segredos
E quando eu partisse, quem viria comigo
Quando eu caísse, quem seria meu amigo
Meu último e único recurso como abrigo
Quando chegasse meu derradeiro inimigo
Os meus bons momentos, quem recordaria
Os meus erros graves, quem concertaria
Dos meus dias ruins, quem se esqueceria
O meu último desejo, quem realizaria
Meu último whisky, com quem eu dividiria
Por último nome, o de quem eu diria
Quem eu olharia nos olhos com pureza
Ao lado de quem eu deixaria a incerteza
Quem pagaria comigo a minha penitência
Acreditando sempre em minha inocência
Quem beijaria, ao lado do rio, pequenas flores
E me traria como remédio às minhas dores
Quem se lembraria de minha última palavra em minha terra
Lembrar-se-ia quando troquei uma cela por um papel na guerra
Batendo o dedo no vidro de meu aquário
Condoendo-se levemente de meu ser solitário
Traria a mim minha espada em frente ao dragão
Limparia de mim o sangue quando ele viesse ao chão
Alimentarei minha cabeça
Pra que eu não esqueça
Quem estará ao meu lado
Quando meu último endereço for selado