Em Minha Hora de Morrer

A última canção que chegaria aos meus ouvidos

Diria-me tanto em melodias e versos tão compridos

Feliz é o homem que vê o caminho assim à sua frente

Podendo partir sem nada atormentar a sua mente

Tendo como vestes apenas cabelos e como mapa o vento

No caminho único em que ele é o senhor do próprio alento

Minha última palavra eu não sei quem ouviria

Meu último conforto eu não imagino da onde viria

Eu me lembro das palavras que já me foram ditas

Eu esqueci das que disse como palavras malditas

Eu conto os passos que me trouxeram até aqui

Eu conto em quantos deles eu realmente vivi

Em quantos desses caminhos eu ao menos sorri

Quantas vitórias ao longo disso eu consegui

A última pessoa que eu contaria todos os meus medos

Em quem eu confiaria para guardar meus segredos

E quando eu partisse, quem viria comigo

Quando eu caísse, quem seria meu amigo

Meu último e único recurso como abrigo

Quando chegasse meu derradeiro inimigo

Os meus bons momentos, quem recordaria

Os meus erros graves, quem concertaria

Dos meus dias ruins, quem se esqueceria

O meu último desejo, quem realizaria

Meu último whisky, com quem eu dividiria

Por último nome, o de quem eu diria

Quem eu olharia nos olhos com pureza

Ao lado de quem eu deixaria a incerteza

Quem pagaria comigo a minha penitência

Acreditando sempre em minha inocência

Quem beijaria, ao lado do rio, pequenas flores

E me traria como remédio às minhas dores

Quem se lembraria de minha última palavra em minha terra

Lembrar-se-ia quando troquei uma cela por um papel na guerra

Batendo o dedo no vidro de meu aquário

Condoendo-se levemente de meu ser solitário

Traria a mim minha espada em frente ao dragão

Limparia de mim o sangue quando ele viesse ao chão

Alimentarei minha cabeça

Pra que eu não esqueça

Quem estará ao meu lado

Quando meu último endereço for selado

JANascimento
Enviado por JANascimento em 26/11/2014
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