Cântico mudo

Tempo possuído.
As personagens se desfocam.

Meu olhar é curvo, corvo,
modo genuíno de apreender
uma realidade dolorosa.

Graves personagens na doçura da tarde
saem dos espelhos.
Um arremesso patético de águas
sobre os olhos. Os cristais devassados,
infiltram-se em espectros de silêncios.

O verde me chega, mendigo.
Mumificadas flores sorriem na moldura exposta.
Silenciosamente submerjo,
a cabeça presa
entre as costumeiras brumas.

Tento, para me esquecer,
retificar o pensamento.
As vozes dentro dele
são o que me resta de sol.


Imagem: Super beautiful photos (fb)
(*) reedição, 2008