A verdade só dói uma vez
Quem esconde o diagnóstico do paciente...
O céu nos avisa quando vai chover
e quando as nuvens se chocam
entre trovoadas e raios
enormes blocos de gelo
são lançados sobre nós
e por uma providência
o que poderia ser uma catástrofe
chega para nós como grossos
ou finos pingos de chuva
ou quando muito como pequeninas bolinhas
para brincarmos de ping-pong no jardim.
Aquele tumor que não cura
vindo da longínqua Singapura ou não
na distante Ásia e aquela azia
que prenuncia a úlcera
não nascem do nada
são plantadas em nós
e deve haver um porquê.
Mas como saber?
A verdade deve doer mas é preferível.
Deve ser horrível morrer ainda enganado
quando o paciente já foi desenganado
e haverá uma escola do outro lado
para nos ensinar o que não aprendemos?
Poesia é isso: divagar devagar
sobre o inusitado
pois posso estar falando
da morte morrida, da morte sofrida
ou apenas da falência da esperança
ou daquele galho podre que já foi nobre
que ameaça despencar sobre o jardim.
...pode estar tão doente quanto.