UM ANJO EM MINHAS SOMBRAS

Estranho sonho:
uma obscena forma,
sem rosto,

invadiu minha noite
a me amar entre barro
e cinzas;

com afiadas unhas
vermelhas
alisava-me as carnes

– ou as rasgava,
já não me
lembro bem –,

um doce precipício
sugava-me com volúpia
o eretíssimo pau,

de modo que me fosse
impossível
alguma libertação
qualquer

- e nem a queria,
tal a febre e o delírio
do momento –;

de repente,
vi quatro asas: duas brancas,
duas negras,

a digladiarem
e a se amalgamarem,
fluidamente,
em meu ser;

ao fim, em estranho veludo,
nasceu uma criança
a resplandecer luz,

a seu lado, em lama bruta,
estava seu irmão gêmeo,
negro:

ambos também
um só ser,

filhos do amor
entre o sublime anjo
e eu.
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 08/02/2016
Reeditado em 08/02/2016
Código do texto: T5537536
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