No Mundo dos Sonhos

Então andou-se mil milhas descalço

E um som triste ecoou em seus ouvidos

A boneca de porcelana havia quebrado

E se desfez junto com aquele coração partido

Sua alma fedia como um pombo morto há três semanas

Todos sentiam o fedor, mas ninguém o ajudava

Os carros passavam sem sentir o que aquele mendigo emana

Muito menos o fogo de uma mente encantada

Desapontado e cansado ele sentou-se em sua poltrona vermelha

E decidiu não mais esperar pelo vento que sopra ao norte

Construiu uma pequena casinha e não se preocupou com as telhas

Pois a sua sabedoria, segurança e também tristeza, o poupava da morte

Chato acabou se tornando

O barulho da cadeira de balanço

Ele ainda está esperando

Pelo frio calmo e manso

E o celular toca sem parar

Mas paralisado ele não o escuta

Ignorou os sinais que estavam no ar

E acabou se desviando da principal conduta

Paredes brancas é o que restaram de tudo, que melancólico!

Nenhuma mancha verde e nenhum desenho explícito

Apenas o vazio, o vazio que não tem registro histórico

Talvez todos os sonhos foram pintados com branco, o branco mítico

Ninguém além do pobre sonhador consegue enxergar a beleza

Aquelas paredes relatam tudo o que há no mundo

Por isso ele está parado há anos, sentado agora em sua cadeira

Talvez ele esteja meditando eternamente em seu sonho profundo

O vento acaba soprando as janelas, e o homem começa a levantar

Talvez finalmente tenha chegado a hora, de novas paredes pintar

Sou pintor, sou cantor, sou escritor, sou o que desejar

Nesse universo o inverso do que peço é apenas parar

Mas o despertador soa forte em meus ouvidos, já é hora de acordar?

Ela vem e te bate na cara, cospe nos seus talheres e te obriga a cozinhar

Estou cheio dela, mesmo assim eu a amo, posso afoga-la no mar?

Creio que não, deve ser impossível, mas ainda é um caso a pensar

Tranquilamente eu abro a porta e me deparou com tudo que sou

Sou a arte, sou amante, sou as histórias antigas de horror

A escuridão e a felicidade, e a mansidade das águas cortantes

Que dilaceram o meu modo de pensar, translúcido igual diamante

Se for bom ou for ruim, então quem sou?

As lembranças e memórias?

Um vírus em seu computador?

O fantasma das histórias?

Ou o herói salvador?

Que morre no final de tudo

Com um sorriso resplandecedor

Sou a poeira das estrelas, que tocam o azul do mar

Sou o coração dos amantes que ainda não sabem amar

Olhe para a lua no amanhecer, pescando nela irei estar

Sou apenas um poeta que sonha, em um dia lhe encontrar

E quando isto eu fizer, as paredes serão realmente coloridas

As portas de verdade serão abertas

E a cadeira será o apoio de uma bela melodia

Enquanto isto não acontece eu desmaio ou fico tonto

Caio com um sorriso no rosto, e fico no mundo dos sonhos