Onírico
O Sol de Campanella invadiu a minha casa.
Eu vi seus raios sendo trazidos por uma asa.
Era única, de ponta a ponta, pássaro de cândido alvor!
Pus-me a caminhar por um jardim.
Nele havia um tapete de jasmins.
Meu coração palpitou em ardor!
Eu vi estrelas que dançavam no céu noturno.
Ouvi uma canção em momento oportuno.
Era o céu escuro que às estrelas cantava com amor.
Belo jardim de flores multi-coloridas.
Algumas eu colhi para curar minhas feridas
duma guerra que não se cansa de impingir dor!
Mas o pássaro de Irene voou no alto céu.
De lá cobriu o mundo com o seu véu.
Então o fogo de Ares apagou o próprio fulgor.
Pássaros voam num céu azul celeste.
Cobrem o mundo, de Norte a Sul, de Leste a Oeste.
Por um tempo esquecemos todo o horror.
A Lealdade bateu à minha porta.
Ao abri-la, disse-me: "Veja-me! Não estou morta!"
Eu a abriguei em meu coração, fazendo dela o meu pendor.
Tenho diante de mim um extenso mar sereno.
O Sol bate em meu rosto, pois insiste em me deixar moreno.
Não sou, não. Posso ficar. Fico mesmo é com calor.
Abelhas, beija-flores, estado onírico.
Ciência, filosofia, filhas do empírico.
Devaneio e experiência dum mesmo autor.
Eu caminho pela ponte do arco-íris.
Poderás caminhar também, se tu ires.
Vamos juntamente descobrir o que tem além do celeste alvor!
O céu converteu-se em terra.
Cada anjo aqui aterra.
Vem-nos revelar o segredo do amor.
A terra converteu-se em céu.
Cada cavalo transformou-se em alado corcel.
Todos eles agora ouvem das nuvens o seu clamor.
E o Sol de Campanella os tornaram dourados.
Pelos pássaros passaram a ser amados.
E à cada um ensinou a ser mavioso cantor.
Ora, este canto em uníssono me despertou.
Então acordei, e o meu sonho com eles ficou.
Olhei o mundo pela janela; precisava lhe dar um solícito favor.