Apanhadores de Vento

Pura nitidez!

Raios de sol que dançam

Nas águas do mar

Brilhando nas tardes de domingo,

Como música serena

Que entoam as musas escuras

Cheias de doces amarguras

Perfume forte, denso

Meu cachimbo devorou

Os dias deste brio azul

Que queima feito fogo ardente

Em gamas de poeira e vento estridente

No profundo âmago de cérebro demente

Onde as almas esfarrapadas

Galopam em cavalos velozes, sonhadores.

Vi-te no banco da praça, mórbida

Calcada como estátua congelada

Ao olhar a fluidez do mundo

O canto dos pássaros

O grito das vozes algemadas

Deslizando em dedos esqueléticos

Porções de areia granulada.

O vinil de Abril entoa a lamuriosa voz

Dos dias nojentos, sórdidos

Soprando músicas ao vento

E o ébrio se esfola em goles de cachaça

Aquecida pelo nada

Vendo folhas a cair

E pombos a petiscar as migalhas

O poeta dos sonhos solitários

Soletra os versos triturados

Imputados no espírito controverso

É poesia de boteco

Que faz o mundo girar

A vida dançar

O louco gritar

Debaixo da saia das damas

Seguindo os paços da bailarina

Vi-te morrer, pensando

Bebendo vinho amargo

Subindo escadas

Cortando avenidas

Ditando rimas nas ruas escavacadas

E nas campinas

Em dias de madrugada

És um apanhador de sentido

Um poeta feliz.

Rafael Jose de Lima
Enviado por Rafael Jose de Lima em 09/05/2016
Reeditado em 27/06/2016
Código do texto: T5630629
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