MENSAGEM DO VENTO

MENSAGEM DO VENTO

I A Perda

Fui mordendo a língua,

e queimava.

Mas sou livre, e mordo,

pois é permitido gritar,

deixar correr o rio,

desimportar da boca

que partiu.

E se deixo de escutar,

falo. E se deixo de falar,

paro. Depois corro.

Fujo. Tardo.

Não desejo paraíso

se me adoro em meus pecados.

E são tantos incontáveis.

É overdose pirotécnica

de chagas em meu corpo.

Uma chaga para cada pecado.

Estou sem corpo.

Aqui estou,

sem corpo e sem futuro.

É triste, é calmo

o vento

onde desfez-se

o meu corpo.

E pálido

e sem braços

era ele.

Não o dou falta,

pois escrevo da brisa jovem do mar,

onde ondas transfiguram-se braços.

II Solução e Negação

A máquina fez-me

um novo corpo,

mas o rejeitei.

A máquina tudo faz.

Flor, guerra e bomba de confete ou hidrogênio.

Faz irrealidades acreditáveis

e belas paisagens de plástico reciclável.

Constrói enormes edifícios

e longas noites

para o amor na beira do rio.

Na beira do ódio, do cio.

Corpo de muitos tentáculos.

Perene, pois findável,

aí nunca existiu.

Nunca houve corpo na beira do mundo.

III Curto-circuito

A máquina entrou em colapso.

Lapsos de memória.

Palavrões sem causa e sentido.

Fantasias douradas encaminhadas para o lixo.

E o mundo rangendo;

E o meu eu descamando.

Jardel Rodrigues Ferreira
Enviado por Jardel Rodrigues Ferreira em 21/10/2016
Reeditado em 20/02/2020
Código do texto: T5799186
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