MENSAGEM DO VENTO
MENSAGEM DO VENTO
I A Perda
Fui mordendo a língua,
e queimava.
Mas sou livre, e mordo,
pois é permitido gritar,
deixar correr o rio,
desimportar da boca
que partiu.
E se deixo de escutar,
falo. E se deixo de falar,
paro. Depois corro.
Fujo. Tardo.
Não desejo paraíso
se me adoro em meus pecados.
E são tantos incontáveis.
É overdose pirotécnica
de chagas em meu corpo.
Uma chaga para cada pecado.
Estou sem corpo.
Aqui estou,
sem corpo e sem futuro.
É triste, é calmo
o vento
onde desfez-se
o meu corpo.
E pálido
e sem braços
era ele.
Não o dou falta,
pois escrevo da brisa jovem do mar,
onde ondas transfiguram-se braços.
II Solução e Negação
A máquina fez-me
um novo corpo,
mas o rejeitei.
A máquina tudo faz.
Flor, guerra e bomba de confete ou hidrogênio.
Faz irrealidades acreditáveis
e belas paisagens de plástico reciclável.
Constrói enormes edifícios
e longas noites
para o amor na beira do rio.
Na beira do ódio, do cio.
Corpo de muitos tentáculos.
Perene, pois findável,
aí nunca existiu.
Nunca houve corpo na beira do mundo.
III Curto-circuito
A máquina entrou em colapso.
Lapsos de memória.
Palavrões sem causa e sentido.
Fantasias douradas encaminhadas para o lixo.
E o mundo rangendo;
E o meu eu descamando.