ego
Duas cidades coexistem
vidas se cruzam e não se permitem
Ai está você, por exemplo
vinte e poucos anos de solidão ou mais
(enquanto o monge adormece antes de chegar ao topo
e acaba chegando primeiro)
viver é caminhar para o apodrecimento
apodrecer é um meio para a vida que vem depois
passar batida
ninguém liga para suas luzes coloridas
ou olha para os dois lados por você
que não olha nos olhos da sua eventual descendência improvisada
fruto de escolhas que não vieram do seu eu mais apresentável
Figurino repetido, você flutua de um jeito muito especial
quando a tradição vira traição
você fala o que quer, brinca com as palavras e comigo
não sou um brinquedo, nao sou
mas por favor, não aperte o botão vermelho
o rótulo cai, a mascara desaparece
interrompo a profecia de quinta, afasto os curiosos com conversas incompreensíveis
perdão, acho que você deixou cair seu rosto verdadeiro
fui eu quem viu primeiro
eu disse, fui eu quem viu primeiro!
Mereço no mínimo um aumento
ou palavras belas seladas com um beijo
num minuto, vou atrás do sujeito
o sujeito em si escapa da minha epistemologia de araque
as coisas que temos se unem quando os sentidos se multiplicam
é o pão que reparto, são os vinhos bons, os peixes e os ladrões pregados em cruzes perfumadas
é o seu cristo em mim invertido, é a besta cheia de blasfêmias
é o falso que se faz concreto
enquanto coisa que não se concretiza
respiro fundo, penso alto
alto lá,
olhe para baixo, mas não olhe para trás
seu rosto verdadeiro
fui eu quem viu primeiro
quem viu?
Com certeza não foi a senhora
a senhora não está nem atenta
como posso chamar-te a atenção?
Essa poesia foi escrita por mim
em meados de outras vidas minhas
e ela é totalmente coesa consigo mesma e servida de misturas químicas agradáveis
e dedico-a inteiramente a ti
amo-te profunda e carnalmente
mas espiritualmente não sei
não deixe o espírito saber
mas que bobagem, os espíritos já sabem
quando chegarmos no outro lado da cerca
dos floridos campos de fevereiro
interrompa a profecia de quinta
abra mão de uma categoria e revele o sagrado anjo guardião
vou fazer a minha, depois faço a sua
tudo são boas maneiras, criança
boas maneiras e meios de subverte-las
e isso significa muito para mim
a paz de espírito é uma sinfonia para os que se permitem ser ouvidos cedo de manhã
as duas cidades coexistem
vidas se cruzam e não se permitem
Ai está você, por exemplo
me dê!
como quem não quer nada
pensar em mim é me sentir dentro de você
devora-me que eu te devoro
e fique feliz com o sol que brilha e a chuva que conforta
os campos floridos são tudo que existe
e tudo que jamais existiu
torna-te imortal com tuas noves horas e tuas complicações eloquentes
estamos aqui reunidos e nos comunicando por meio de telepatia
lendo os pensamentos um do outro
de trás para frente
para celebrar a carne e os prazeres nos quais o sagrado está escondido
devora-me que eu te devoro
até os ossos ou nem comece
devora-te
e não deixe sobrar nada
entre deus e o orgasmo não existe abismo