Opostos

A minha alma se prepara pra encontrar aquele que sabe fazer perguntas.

O meu medo se prepara pra confrontar aquele que nunca sentiu dor.

Meus pensamentos se dissipam ao menor contato com aquele que não espera pelo amanhã.

Minha presença está na ausência que faço questão de exprimir.

Meu coração se prepara pra sentir o amor que nunca foi apresentado.

O meu ódio é dopado pela paz do desencontro e atrapalhado pela perda e dormência.

A minha paciência perde a linha no primeiro contato com o que resta desse mundo.

Meu dinheiro não gasta , minha roupa não suja, meu beijo não molha , minha garganta não grita.

No meu caderno velho minhas letras perdem a cor.

Com meus passos rápidos eu nunca chego na hora.

Meu relógio parou, minha voz secou, meu cigarro apagou, minha gota de sangue gemeu, meu pecado me perdoou.

Num asilo de crianças eu brinco com meus pensamentos , enquanto aguardo a chegado de quem não me quer, pra me levar onde não posso ir.

Minhas dúvidas são repassadas para respostas do começo da folha, e meu nome troca de nomes assim que me deito na cama.

meus remédios perderam o gosto, e um veneno entope minhas veias sadias.

Minha áurea é suja, e não descanso nas sombras de uma noite sem lua.

Minha paz é na guerra.

Meu grito é nos gestos , e minhas mãos se ocupam de mirar meu futuro incerto.

Sobrevivo nas fotos e desmaio nas quentes tempestades de inverno.

A fome não sacia , a sede brota no vento e a dormência não se aplaca ao amanhecer.

Fisionomias descem pelo meu cabelo, e rugas sobem pela minha alma.

Sobre mim deslizam delírios ríspidos , socos certeiros que nunca me acertam, e paisagens que somente cegos viram.

O meu sossego grita , minha caneta desliza sem cor e meus banhos são regados a esperma e névoa.

Luto pra dentro e sofro pra fora.

Todos os meus casos são únicos e muitos similares a outros.

O meu mundo não termino com estrondos , mas com muita choro.

Meu gosto é ocre e minha mente desliza sobre letras.

Repasso e faço tudo de novo pela primeira vez , só pra regressar ao que nunca comecei.

Pois sei o que está por detrás da porta , morta e ferida.

Eu conheço a dor da partida.

Eu não pergunto por nomes , não rezo por deuses, e não me escondo debaixo das camas.

Eu peregrino pelas plantações imorais e desfaço tudo num espaço de tempo, que nem o vento é capaz de assoviar.

Minha vida está na morte , assim como minha morte reside na vida