o último passageiro do trem de ferro

o trem corria a uma velocidade tal

que quando o primeiro tiro partiu

o pássaro caiu

longe os bois pastavam tristemente

enquanto uma menina passava distante

com um olhar perdido no infinito

e só tinha sete anos um mês e três dias

que eu não via minha mãe

ela tinha uma dentadura

e os porcos comiam de cabeça baixa

quando o apito soou estridente

de repente

o silêncio

e o menino perdido - sempre existe alguém perdido -

no meio do mato

encontrou sangue espalhado

quando um gavião voando livre

falou de suas mágoas:

tamanha desventura de gavião

não poder comer a galinha e os filhos da galinha

presos no porão

Do meu livro semi-artesanal Três Estações - Edição do autor - 1987