666

Filho do filho da mãe

o que tomam por mim

as filhas da prima do pai?

pelo que me chamam

enquanto finjo que durmo

e vejo de olhos vendados

segundo testemunhas?

eu sou a sua rendez-vous

a sua raison d'être

o seu país

me chama de estado, chama

olho o tamanho da minha cidade

onde está teu irmão?

escondido no escuro

onde está a tua irmã?

rezando em línguas

no que um corre, o outro para

um sorri e o outro chora

um dos dois vai buscar o remédio do seu pai, voltei

mas o que tomam por mim

filho do filho da mãe?

onde quer que me levam

coisas impossíveis

relevam minha loucura, lá fora o sol está brilhando

à beira da vista, aqui não tem mais nada

(ou)

além de anjos negros procurando salvação

a gente finge que não vê certas coisas

e o senhor precisa seguir em frente

eu sou o seu país

me chama de estado, vai

olha as luzes da minha doce cidade

eu sou o seu bolo preferido

vem aqui correndo

trouxe uma surpresa

(e como dobram-se os cantos dos pássaros!)

com chuva de confetes e jogo de guerra

o que mais você esperava

sendo eu aquele que sou?

eu atiço a lenha da tua fogueira

e olha que aperto forte essa coleira

e sopro de uma vez só tua carreira de nada

ou eu levanto rápido do fundo da sujeira

e saio correndo, sem eira nem beira

que cacique tem morada boa

tem pé de tudo que existe

tem lagoa

eu nu no fundo e a vó tá bom, meu filho

pra cima com a fúria do teu pai

que nenhum estado pode te deixar tão frio

que nenhum arcanjo vai tocar o baile no teu lugar

e olha que panela de barro é coroa

no meio da confusão assustadora

olha como é grande o meu país

de cabo a rabo com a cruz nas costas

todos percorremos a estrada escura

todos somos filhos do filho da mãe

Igor Marques Rodrigues
Enviado por Igor Marques Rodrigues em 22/11/2018
Código do texto: T6509169
Classificação de conteúdo: seguro