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Filho do filho da mãe
o que tomam por mim
as filhas da prima do pai?
pelo que me chamam
enquanto finjo que durmo
e vejo de olhos vendados
segundo testemunhas?
eu sou a sua rendez-vous
a sua raison d'être
o seu país
me chama de estado, chama
olho o tamanho da minha cidade
onde está teu irmão?
escondido no escuro
onde está a tua irmã?
rezando em línguas
no que um corre, o outro para
um sorri e o outro chora
um dos dois vai buscar o remédio do seu pai, voltei
mas o que tomam por mim
filho do filho da mãe?
onde quer que me levam
coisas impossíveis
relevam minha loucura, lá fora o sol está brilhando
à beira da vista, aqui não tem mais nada
(ou)
além de anjos negros procurando salvação
a gente finge que não vê certas coisas
e o senhor precisa seguir em frente
eu sou o seu país
me chama de estado, vai
olha as luzes da minha doce cidade
eu sou o seu bolo preferido
vem aqui correndo
trouxe uma surpresa
(e como dobram-se os cantos dos pássaros!)
com chuva de confetes e jogo de guerra
o que mais você esperava
sendo eu aquele que sou?
eu atiço a lenha da tua fogueira
e olha que aperto forte essa coleira
e sopro de uma vez só tua carreira de nada
ou eu levanto rápido do fundo da sujeira
e saio correndo, sem eira nem beira
que cacique tem morada boa
tem pé de tudo que existe
tem lagoa
eu nu no fundo e a vó tá bom, meu filho
pra cima com a fúria do teu pai
que nenhum estado pode te deixar tão frio
que nenhum arcanjo vai tocar o baile no teu lugar
e olha que panela de barro é coroa
no meio da confusão assustadora
olha como é grande o meu país
de cabo a rabo com a cruz nas costas
todos percorremos a estrada escura
todos somos filhos do filho da mãe