PROFETA

Todas as noites

Que correm nestas veias

Abrem-se ao grande mar:

Imensa fuga do deserto

De um corpo revolto

Em areias caóticas.

Eis a confusão:

Último botão desapertado

Do espartilho humano

Que é o pensamento organizado.

Eis-me primitiva

Pregando a fantasmas solitários,

Iludidos,

Que pensam ainda viver

E brincam

Com a eternidade.

Enquanto falo

As minhas palavras escondem a trovoada.

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As chuvas ameaçadoras

Que trazem o corpo nu.

O conhecimento.

Mãos cheias de areia,

Tão cedo vazias,

Lançam ao vento gestos de náufrago

Num mar deserto.

Estas noites,

Depois do sol,

Abrem-me à saciedade de uma prisão:

Liberdade.

Susana Júlio

in Do Mar Grande e D`Outros Mares

Antologia Poética

Susana Júlio
Enviado por Susana Júlio em 13/09/2007
Código do texto: T651043