Manhã da noite
Cinco horas!
É noite da manhã cavucada em travesseiro.
Garimpada em algodão babado Close-up.
Noite de maritacas, não vejo morcegos.
A maritacada (não sei bem o som disso)
disfarça a manhã noturna de corujão.
Pra enganar a lua que só conhece a noite
[e sempre é rodeada pelas estrelas.
Pra enganar o sol que dorme com ressaca de cerveja.
Pra enganar o vizinho e seu “aaaatchim!” de azulelo e remela.
Pra enganar esse Jerico com gastura de grávida empanturrada.
Pra enganar a grama do sem água e fazê-la gozar orvalho seco.
Pra enganar duas filhas com boanoites de durma bem.
Pra enganar a mulher, a que jamais se engana com escuro.
Pra enganar a mãe que é mãe sem respeitar noite e dia.
Pra enganar o escuro-tórrido-leito com o frio-róseo-azul-mentiroso.
Pra enganar o dia que nasce com a conversa de nascer mais cedo.
E emitir últimos e primeiros.
Últimos sopros de lua,
primeiros choros de sol;
primeiros risos de fronha;
primeiros rádios chiados;
primeiros bules torrados;
primeiros bocejos de bafo;
primeiros beijos de guarda-chuva;
primeiros amores suados melados;
primeiros versos sonhados (presumidos).
Só me resta calçar o par de tênis,
pegar minha trouxa concubina
e me lançar nessa manha com noite na trilha
da manhã quase noite, que me mostrará
o sol da noite e a lua do dia de manhã, do alto.
André, Um Jerico