Insólita tempestade

Chuva sobre a lenha.

Os cavacos tinham sede de sol.

Nos buracos vazios,

nenhuma estrela caiu.

O homem continuou só.

Na ilusão de sua casa mal assombrada,

chorando sobre a chuva,

no silêncio dos umbrais da estrada.

Os fantasmas que o vento trouxe

doeram mais que a saudade

que abriu a porta na madrugada.

Nos seus olhos boiaram pedras,

e borboletas.

Boiaram a beleza, as dúvidas

e as certezas.

Tudo que ao pranto de um céu

se curva.

Então o tempo desgarrou-se dos véus

soltou-se das mãos de Deus

e foi desvelando a chuva.