ABSTRAÇÃO

Colhi flores e frutos transparentes no âmago do meu ser.

Uma loucura branda transformou meus olhos em gotas de mim.

Uma amargura em camera lenta desabotuou minha alma,

revelando secos e amargo perfumes, tristes e fiéis pensamentos.

Sob a boca que outrora rezou por tanto,

ora fel e medo escorrem no canto que falo.

Vislumbro curvas , vidas sinuosas,

pedaços soltos de todos em mim.

A pele que queima da febre que não cessa,

a boca que chama pelo nome que não conheço.

O orgasmo intocado como se o sexo fosse venerado de longe.

Ai de mim que reclamo da sorte ...

A retina dilata sobre o futuro incerto,

E desse mal que padeço sou só mais um incrédulo.

Um peso que atrai uma mão suicida,

o sopro sobre a ferida cicatrizada.

Nada é mais como quis que fosse .

Só enxerguei o futuro quando fitei de frente meus erros passados.

Com isso a ventania sopra mais branda ,

e os poemas não são lágrimas ardidas.

Ponto a ponto me supero e reescrevo o que penso.

Logo mais a manhã se fará outra vez , e o peso dela será mais leve a cada prece repartida.