Passo em frente
Vai alta na rua a metade de lua
Que ilumina a cidade.
A luz que atravessa na face que é tua
Aproxima a vontade.
Há um zumbido na praça que passa
Pela minha cabeça.
Lanço o ouvido ao sentido que faça
Com que eu te conheça.
Passo uma porta forçando a entrada
Mal fechada de mim.
Suporta o telhado a viga enrolada
Pela escada sem fim.
Lá fui entrando calcando uns calhaus
Desse tecto rasgado.
E a tua presença acalma no caos
Donde ando inanimado.
O luar entra a cortar as cortinas
E acorda a cor das sombras.
As imagens retidas nas retinas
Guardam penas das pombas.
Rodeiam caras ‘sculpidas o círculo
de vidro dividido.
No centro é o vidro que falta o veículo
Do céu em nós caído.
A tinta a desfazer-se das paredes
Pinta a fotografia.
Treme-me o toque ao conter-se nos dedos
Da mão de ti vazia.
Breve, o branco abranda a escuridão
da noite a entrar na sala.
Piso nos vidros que gritam do chão
À conversa que cala.
Encontro a chave duma porta aberta
Na sua fechadura.
Fechamo-la e tornamo-la secreta
P’ra cultura futura.
Se espero o que quero parado iludo
A mente que me sente.
O ângulo agudo das formas de tudo
Atrasa o passo em frente.