Passo em frente

Vai alta na rua a metade de lua

Que ilumina a cidade.

A luz que atravessa na face que é tua

Aproxima a vontade.

Há um zumbido na praça que passa

Pela minha cabeça.

Lanço o ouvido ao sentido que faça

Com que eu te conheça.

Passo uma porta forçando a entrada

Mal fechada de mim.

Suporta o telhado a viga enrolada

Pela escada sem fim.

Lá fui entrando calcando uns calhaus

Desse tecto rasgado.

E a tua presença acalma no caos

Donde ando inanimado.

O luar entra a cortar as cortinas

E acorda a cor das sombras.

As imagens retidas nas retinas

Guardam penas das pombas.

Rodeiam caras ‘sculpidas o círculo

de vidro dividido.

No centro é o vidro que falta o veículo

Do céu em nós caído.

A tinta a desfazer-se das paredes

Pinta a fotografia.

Treme-me o toque ao conter-se nos dedos

Da mão de ti vazia.

Breve, o branco abranda a escuridão

da noite a entrar na sala.

Piso nos vidros que gritam do chão

À conversa que cala.

Encontro a chave duma porta aberta

Na sua fechadura.

Fechamo-la e tornamo-la secreta

P’ra cultura futura.

Se espero o que quero parado iludo

A mente que me sente.

O ângulo agudo das formas de tudo

Atrasa o passo em frente.

Krinkelhas
Enviado por Krinkelhas em 02/02/2008
Código do texto: T843542
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.