OS PÁSSAROS

Ah os pássaros !

Quanta leveza!

Quanta magia!

Quantas verdades encerram?

Poderá um dia os homens voar

Como eles?

Se puder, mesmo assim

Jamais terá sua inocência

Porque os pássaros são pedacinhos

Despreendidos do céu

Cobertos de penas e

Ausência de culpa

Eles trazem a manhã fresca

Dos arredores do futuro

Ao contrário dos pássaros

Os homens estão cada vez menos leves

mais silenciosos

E menos verdadeiros

Eles turvam as manhãs

Com a realidade

Como os homens, eu caminho

No lombo áspero da vida

Nestes tempos pesados

Em que a lingua muda

Ë o território

Inexpugnável

Da negação

Aos sentimentos

Homens taciturnos

Caminham na minha rua

Que é feita do lombo duro

Da terra

Não falam, nem mostram emoções

Porque algo lhes comeu a língua

E o destemor infanto-juvenil

Não há mais o jorro dos sonhos nos seus olhos

No corpo, apenas a vida que mecânicamente

respira

Os limites dos seus corpos

São os limites de sua alma

Onde não parece haver chances para a felicidade

Eles parecem presos a um mundo maluco

E sem razão

E seus semblantes

São portos secos

Sem mar

Voltarão um dia a sorrir?