Álbum da Vida

Meus olhos forçaram-se a fechar

E coloquei-me a imaginar

As pessoas como fotos, figuras

Algumas querem a qualquer custo ser de primeira página

Para outras basta ser um rodapé colorido

Posar na primeira página pode ser sofrido

Sensacionalismo na pele, ocultando o ocorrido

Relatando o conveniente

Mas lá está ela na capa, presente

Inevitável sorriso no álbum de família

Papai, mamãe, avô, titia com sua filha

Maninho cresceu, já é um grande homem

Vovó faleceu, e a saudade é enorme

O sorriso se desfaz com facilidade

Vi alguém posando de calamidade

Desastre frequente no mesmo jornal

Que tem na capa este animal

Que consome sonhos humanos

E comete atos profanos

Foto mau caráter, foto atrocidade

Ainda existem aquelas fotos em preto e branco

Que dá palmadas na horda errante

Sem perder o semblante

De quem sabe muito e continua aprendendo

Que num sorriso está sempre ensinando

E poderia até mostrar ao mundo como se vive

Para que não seja só mais um clique

Depois da busca pela fama, família e insana

Não posso esquecer, das fotos de cama

mesa e banho

Alegria e sonho

Chego no momento em que a solidão

Passa a ser um adjetivo: bisonho

Se acanhando entre fotos coloridas

E ao tocar de telefone,

atendo e ouço meu nome

Abro os olhos e foram-se as fotos

Telefone, TV, barulho das motos

Um amigo anuncia sua saída

O outro acena em despedida

E eu fecho o grande álbum da vida.

Segundo Lipe
Enviado por Segundo Lipe em 20/12/2005
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