DIVINO RETRATO
DIVINO RETRATO
O meu inferno é aquela musa sobreposta
Entre o castiçal e a moringa
A musa,
fixamente, olha-me fria
Apoiada ao cotovelo
sobre as quatrocentas e vinte oito páginas...
É Divina esta Comédia.
A fotografia de casamento sorri juras
O relógio ao lado
gira o tempo parado
na lembrança das flores
fotograficamente eternas.
O eterno pescador no quadro à esquerda,
encurvado, não cansa sua coluna
enquanto entalha o casco, a vida passa vagarosamente
A coluna da parede, à direita,
não sustenta o peso do tempo,
mas resiste às maldades dos homens
Oh, musa! (da página duzentos e sessenta e seis)
É chegado o momento de lhes pedir proteção.
Proteja os fracos
dos oprimidos,
para essa união, não há fundo no buraco,
a queda é dolorosa.
E a culpa...
A culpa vem dos anjos tristes que pousam suas asas sobre os homens,
E assim somos friamente aquecidos
Uma febre que não passa
No Canto X, o espaço é o purgatório,
Mas, aqui,
No silêncio da casa solitária de presente
os soberbos e os orgulhosos se escondem
nas frestas do telhado caído,
onde a poesia já não mora mais
Eis que meu paraíso se dá
à face refletida na tela da TV desligada.
Face, que me olha ao olhar-me
a fotografia
a musa.
Minha comédia.
Uma
lágrima
escorreu-me
forte.
E,
contrito,
a uma oração
dei início