Angustus, o homem que caminhava

O homem caminhava pela estrada.

Pela estrada com os pés descalços.

Com os pés descalços e a roupa rasgada.

O chapéu do homem fazia sombra.

A sombra do chapéu cobria seu rosto.

O seu rosto ninguém enxergava.

A passagem do homem é um labirinto sem muros.

Dentre unhas e dedos, o vermelho em pó.

Descalças, andarilhavam as datilografias.

Dedo ante dedo; ser anti ser; pé ante pé.

A trilha é turva, o chão é de barro.

Os pés são descalços e ele caminha

De leve, com as solas chapadas.

Fritando a estrada, fitando os nadas.

O homem é turvo.

O caminho é de sombras.

O chapéu é rasgado.

E a estrada é de pés.

E assim tudo é,

Pois é assim que quer

Quem escreve, não quem anda.

Não quem simplesmente quer.

Quem faz poesia, poeta.

Quem caminha, procura.

Quem passeia, passagem.

Quem inventa, loucura.

E quem cria animais falantes,

Não é caminhante,

Pois percorre sentado

A odisséia que é

Gozar a doidice

De falar sendo mudo,

Bem como seria...

No escuro do mundo,

Com abafados sussurros

Deflorar as vertigens

Que o fazem Angustus.

Desbotar os invernos...,

Vaguear por paisagens...,

Esfregar nas pernas o barro dos pés,

Soprar vento de vida nos magros papéis.

Sozinhar com caneta que pinga

Uma estória eufórica sobre o Destino.

Chegar sem nunca ter ido,

Escrever sem nunca ser lido.

Diogo Nunes
Enviado por Diogo Nunes em 15/11/2008
Reeditado em 15/11/2008
Código do texto: T1284930
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