Órfico

À noite, na escuridão dos seus pensamentos,

em vão iluminados pelo luar,

sai a alma selvagem a caminhar sobre as pedras.

Não há o mar, para afogar-se.

Não há grandes alturas, para precipitar-se.

Num desespero célebre de todas as almas selvagens,

que caminham à noite, sem sossego ou descanso,

segue seu curso sobre as pedras

que não mais são pedras.

São seus próprios pesadelos,

incessantemente pisoteados,

acumulados em sua surreal existência,

que insistem em se fazer presentes.

Para no meio do seu percurso,tal como faz todas as noites.

O silêncio de sua dor ecoa e retorna para si mesma,

feito eco na colina.

Riu alto toda a angústia desse momento.

Então, tal e qual todas as noites,

inunda-se de coragem

e pisa, desta vez, na grama molhada

pelo orvalho da madrugada que se anuncia.