Abismo da criação
Sangra o silencio nas minhas feridas;
Doem-me as fibras do coração
Na gaiola do peito.
Vermes vencem a carne
Mas o silencio não cala meu espírito,
A lucidez estrangulada
Vibra no breu dos abismos.
Sorvo a lembrança de Lázaro
E minto palavras
Para o labirinto da angustia.
Rememorar a dor passada é reescrever um livro morto
Prostituir a página num suspiro,
Morrer no berço das recordações
É sentir o hálito frio
De fantasmas famintos de fé
E a mais impoluta ferrugem.
Símbolos na noite dizem que sofro
Mas apenas canto brasas no abismo
E informo ao mundo o inútil glorioso
De nossa criação...