DO ACASO AO DESTINO

Acordei.

E como de costume, me levantei,

fui ao banheiro e me lavei:

Dentes, barba, cabelo,

enfim, o corpo inteiro

Segui o ritual diário de minha vida

Sem sequer imaginar

que ainda naquele dia,

meu fim iria encontrar.

Sentei.

E como de costume, nada falei.

Apenas tomei o habitual café quente

E despedi-me da mulher com o usual beijo frio

“- Até já!” - disse automaticamente.

E ela respondeu igualmente.

Caminhei.

E como de costume, me apressei.

Ainda havia muito que fazer e a terminar.

Para a tão sonhada promoção ganhar.

Sonhos, viagens e a mulher, podiam esperar.

Afinal, um dia, ambos iríamos aproveitar.

Embarquei.

E como de costume, o melhor lugar procurei.

Escolhi o que estava com os dois assentos vagos

Pois não queria ninguém a me incomodar logo ao lado.

Elaborava meus planos para o futuro

Sem notar que meu único futuro já havia chegado

Numa briga de trânsito, em um motorista exaltado,

Com o revólver em punho e num tiro descuidado.

O destinatário original da bala no chão se jogou

E por um desses acasos, a bala simplesmente se desviou

E justamente no banco que havia escolhido me encontrou.

Despenquei.

E como não era costume, chorei.

E ainda pouco antes de partir, me lembrei:

O beijo frio, seguido do automático “Até já”,

Os sonhos planejados e as viagens a aproveitar.

Como teria agido se soubesse que a morte, naquele dia, iria me levar?

E ali, no chão daquele ônibus já tingido de vermelho,

Deixei minha última lágrima rolar,

A pensar na ironia que é o acaso ao destino levar.

Roger Beier
Enviado por Roger Beier em 16/08/2006
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