Na Janela
Sabe, eu quero aquela coisa,
Descaradamente bela!
Quero prosas e trovas,
poesia sincera!
Quero o lirismo escancarado
sem escândalos vampirescos.
Quero um novo chamado
de versos tão Dantescos.
Ou grotescos?
Quero o novo,
o sádico,
o profundo e o simplório.
Recomeço, pálido,
quero o mundo num velório.
No enterro das mentiras,
das palavras superficiais.
Quero tudo, ou apenas nada,
ou quero até demais!
Não sei bem o que me incita,
mas é coisa que tanto quero,
apenas sei da poesia não dita
que aflora num mistério.
Velejei no alto mar da solidão.
Não volto mais,
pois o porto é o meu cais,
minha eterna ilusão.
Daquelas coisas tão ilusórias.
Não sei bem do que escrevi.
Só sei que escancaro as minhas glórias
Em versos mornos, que nunca vi.
E há glórias de verdade?
Isso ninguém saberá!
Mas como estes versos são descarados
A verdade vou contar:
Não sei a quantas anda minha vida,
mas, acreditem, não ando tão perdida.
Só sei daquela coisa,
que tanto quero:
Versos simples,
profundos,
poesia, sim, é o que eu espero!
E o meu compor não se acaba
recomeça em toda manhã:
Nasce o sol, brotam as flores,
cai a folha mais ansiã.
E eu ali, tão serena
espiando na janela,
querendo, tão ingênua,
pintar uma vida mais bela.