Desapego.

DESAPEGO.

Um desapego profundo.

Sob neons e os túmulos.

Um ócio tão vagabundo.

Entre a escória e o limbo.

Saí dela, e fui...

Desapegando da infância.

Lembrando Mário Quintana.

Na trilha da sua esperança.

O desapego por toys.

Já rapazola e algoz.

Sem ter montado no pônei.

E dos bonecos não sei.

Desapeguei da ilusão.

Doeu o meu coração.

O amor daquela menina.

Incendiou o tesão.

Incendiou minha cara.

A minha alma também.

E fui ganhando e perdendo.

Desengatando o trem.

Troquei aquele empecilho.

A outra me deu um filho.

Olhava o céu de estrelas.

Seu infinito e o brilho.

Um Crusoé, ermitão.

Voltando aquela caverna.

Onde a maiêutica socrática.

Que Aristóteles governa.

E despojei-me de tudo.

Eu só queria a luz.

Pensava em transcender.

Não carregar outra cruz.

O mundo é desapego.

Que a tudo isso conduz.

É como um sonho absurdo.

É ler Camões cego e mudo.

É ter a alma da alma.

Sorver um gole de água.

É degustar a maçã.

Entre o inferno e o Pan.

Como o “boneco de sal”.

Leonardo Boff engendrou.

Que justifica a fusão.

Do mal, do bem e voar...

Mesmo com asas de cera.

Planado sobre o atol.

Ficar a certa distância.

Da armadilha do sol.

Se do perder, o vazio...

Pra sermos plenos, vadios.

Da mera fatalidade.

Na tenra e velha idade.

De um projeto infinito.

Como um buraco abissal.

Por mares não navegados.

Entre o bem e o mal.

Nasci!

Quando vi, eu era criança.

Quando eu me vi, já era a dança.

Quando percebi, eu era esperança.

Passou!

Da tenra idade pra velha cidade.

Bengala de apoio, olhando vitrines.

Como um filme de Píer Paolo Pasolini.

Olhei-me no espelho vi meus pais.

Aquilo que fui não volta jamais.

Releio a poesia de Mario Quintana.

Etéreo no fundo do mar ou na tona.

Um tanto agnóstico um tanto ateu.

Mais sempre a procura daquilo que é meu.

Tentar entender o espantalho de sal.

Ficar entre o céu o inferno e o mal.

Poesia elaborada sobre o texto de Leonardo Boff “O boneco de sal”, editado no Jornal “A Tribuna”, de 7/05/2010.

Honorato Falcon
Enviado por Honorato Falcon em 31/07/2010
Reeditado em 24/02/2014
Código do texto: T2409979
Classificação de conteúdo: seguro