MEA CULPA
Juliana Valis



Carrego a culpa das emoções loquazes

Nos frios versos que transcendem verbos,

Imersos sempre em dias tão vorazes

Que perdi o sentido nos rumores lerdos 

E, desde então, quero fazer as pazes

Com a bússola que na minha alma havia...



Sim, eu vejo a culpa do temor do dia,

E escuto a culpa das vagas ilusões

Nessa breve luta, nessa luz vazia,

Irradiada, em vão, pelas televisões




E, assim, não culpo mais adjetivos

De quem me julga tão aparentemente,

Não culpe a tristeza e o temor dos vivos !

Não culpe a solidão, perdida, de repente !



E pouco importa se sou simples, estranha, feia

Entre tudo e nada, em cada correnteza,

Os feios também amam, choram, sentem

E dirigem seus cadavéricos carros rumo à incerteza,



Ontem, eu colhi estrelas entre os ventos

E pedi ao tempo que nem tivesse nascido,

Procurando no labirinto dos sentimentos 

Algum simples vestígio de sentido



Hoje, apenas, quero um lugar tranqüilo

Além de mim, além do vento e do mundo,

Onde eu possa, pacificamente, chorar

 E rir da minha pseudo-intelectualidade.

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Quadro do pintor Vassily.

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