Cego na multidão

Acordei cego e tudo era escuridão,

parecia estar vivenciando um pesadelo acordado,

tateando pelo quarto, tropeçando em mim mesmo,

machucando-me ao me bater em móveis e quadros,

vesti-me com roupas pelo avesso da minha memória,

senti-me desconectado do mundo,

não havia mais claridade, nem formas ou ilusões,

não havia segurança, conforto ou sensatez,

só havia um grande nada em forma de buraco negro,

sai pela porta através de uma maçaneta girada à esmo,

esbarrava em objetos, pessoas, caindo pelas calçadas,

o barulho quase ensurdecedor de pessoas e trânsito na cidade,

aromas misturados, comidas variadas, perfumes, odores nauseantes,

por favor uma luz, era tudo pelo que eu clamava,

eu ouvia o riso debochado de alguns e trôpego continuava,

seguia um caminho sem rumo e sem noção de guiamento,

procurava paredes que me dessem sustentação,

meus pés me traiam e escorregavam no piso desalinhado,

minhas mãos feriam-se em chapiscos ou portões de aço enferrujado,

o terror me atormentava a alma e o coração acelerando-o,

nada era mais certo, nada era mais ideal, nada era mais convencional,

tudo parecia girar em um carrossel de um trem fantasma,

por favor uma luz, era tudo pelo que eu rezava,

não tinha mais noção das horas, do tempo, estava perdido,

o descontrole tomara conta de cada ato meu,

estava cego na multidão, cego na solidão, cego sem compaixão,

não sabia o motivo, não sabia se era alguma epidemia,

só havia confusão em meus pensamentos e desconfiança ao redor,

já exausto me deixei cambalear até um muro e ali quedei sem forças,

então alguém aproximou-se e limpou meu rosto suado em um lenço perfumado,

uma voz macia me acalmou e me ofereceu ajuda,

suas mãos delicadas me conduziram pela estrada,

sua firmeza de personalidade me animou o espírito,

estava ali a minha luz, a luz que eu tanto havia pedido,

estava ali a minha visão, a minha visão em um mundo cego...