BOCADO

Meu pouco é apenas um pouco de tudo;

é o ontem, o hoje, o agora,

é um mundo minúsculo e enorme,

é o tudo, é o nada uniforme.

Meu pouco é um pouco sinuosa estrada;

é reta de tantas manobras,

é terra lavrada que o sol ignora,

é obra inacabada de mãos calejadas.

Meu pouco é um pouco outono flamante;

é flora silvícola de cor ignóbil,

é igarapé que corre silente, errante,

é torrão tórrido, às avessas sútil.

Meu pouco é um pouco intenso e pacato;

é o pouco que beija veemente o espaço,

é aquele que no mundo vaga letárgico,

é o santo, é o louco, é pudico, é pecado.

Meu pouco é um pouco do meu todo;

é maçã que alimenta a fera,

é nascente que embala a nau , é calmaria,

é movimento que impele segura a esfera.

Meu pouco não tem rumo certo;

é ângulo obtuso, é ângulo inconcluso,

é linha que margeia o incerto,

é o ângulo que a m’ia essência urgi,

é ângulo concreto.

JP30122012

Aglaure Martins
Enviado por Aglaure Martins em 30/12/2012
Reeditado em 01/01/2013
Código do texto: T4060218
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