A Criança

As Discussões espalhadas por todos os cantos da cozinha,

Cadáveres de afetos são enterrados no quarto pelo medo.

A Criança olha sem entender o sangue em seus brinquedos,

A Criança sente que a Dor é sua única amiga e leal vizinha.

Incompreensões são o diálogo a todo instante, até no almoço.

Cada um enclausurado na casa em seus próprios escuros becos,

A Criança é empurrada sem remorsos para o fundo do vazio poço,

Pelas ausências dos pais nesses vales tão decrépitos e secos.

A criança mutila o próprio reflexo com uma navalha cega,

Pronto! Eis mais uma alma tão habilidosa e desfigurada;

A Criança lança gasolina em tudo o que a vida lhe prega,

O fósforo incendeia a pureza pecaminosa das brincadeiras enervadas.

Cada orvalho, cada aurora, todas as coisas vivem de si divorciadas,

E a Criança degola as faces em que as mãos do Destino lhe delega.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 18/08/2013
Reeditado em 18/08/2013
Código do texto: T4440051
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