O FADO ATEU

Desde quando ornava mesas

Com óbolos e jacintos

E me insistiam os labirintos

De uma fé de todo insana,

Que antevia a tua ausência.

E mesmo assim eu te buscava

Num anti-deus da Nova Era

No imponderavel do Pranna.

Eu, que, pobre mortal e ocidental,

Assistia a diuturna morte de Cristo

Tanto mais me convencia

Do tal imenso e grave fado,

Um pecado, sem expiação

Para quem reina sobretudo,

Seja o mais rico tesouro

Ou, sobre a humana ciência:

- O de saber-se que, há no mundo

Tanta criança com fome.

Um pecado de Deus, sem nome.

E este, eu já pressentia,

No putrefar do manto santo,

De arminho, bordado a ouro,

Senhor Pai, de Onipotência.

Ricardo S. Reis

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 04/06/2007
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