O FADO ATEU
Desde quando ornava mesas
Com óbolos e jacintos
E me insistiam os labirintos
De uma fé de todo insana,
Que antevia a tua ausência.
E mesmo assim eu te buscava
Num anti-deus da Nova Era
No imponderavel do Pranna.
Eu, que, pobre mortal e ocidental,
Assistia a diuturna morte de Cristo
Tanto mais me convencia
Do tal imenso e grave fado,
Um pecado, sem expiação
Para quem reina sobretudo,
Seja o mais rico tesouro
Ou, sobre a humana ciência:
- O de saber-se que, há no mundo
Tanta criança com fome.
Um pecado de Deus, sem nome.
E este, eu já pressentia,
No putrefar do manto santo,
De arminho, bordado a ouro,
Senhor Pai, de Onipotência.
Ricardo S. Reis