O Carvalho

(Hoje...)
O derradeiro verso
adormeceu calado
num fio sem reticências.

(Ontem...)
O vento da estação
feriu o lenho seco do
místico Carvalho.

            O seu vagar é leve,
            o seu olhar de orvalho...
            – Não mais o viço rico
                       [no vicejar das letras.

A chave tão complexa,
que a sete chaves frias
a alma ali guardou,
guardada ali ficou:
       a poesia no segredo do cerne,
       o poema no altar do silêncio...

Lá fora ficaram lobos sacrificando lobos
              e cordeiros sem guarida.
Ficaram as réstias de antigos signos.
Ficaram as pegadas de um velho cajado
             e rastros de histórias por todo caminho.

(Hoje...)
É sol poente...
Uma velha caravela foi ao mar
           levando um vate calmo no convés
           às vagas impolutas de outros mares...

É sol poente...
Um quarto. Um catre.
Um rolo manuscrito.
(Ao pó, solto, esquecido...)

:O canto que ficou
das seivas que restavam
na alma do carvalho

e em todos seus vazios
na lauda e no corpo
na forma e no compasso
dormindo em bruma etérea
no ritmo e na estância
...o seu último verso.


               Sidnei Garcia Vilches. (25/04/2004)